Minha avó...
Uma frágil relação desde a mais tenra idade.
Ela pegou no meu calcanhar de aquiles : meu pai.
Quando era pequena meu pai perdeu tudo. E precisava vender tudo o que tinha pela frente inclusive meu aparelho de som ...aquele que eu amava muito.
Dei para meu pai vender imediatamente e eis que chega minha avó para um almoço em familia e dispara:
- Na minha casa quando vende uma coisa, compra-se duas. Uma para colocar no local outra para deixar reservado.
Desde este dia a 3a guerra mundial entre mim e minha avó estava declarada...nunca mais fui a mesma com ela e isso foi bem antes dessa foto...e essa foto foi na minha primeira comunhão.
Mas vamos deixar bem claro : eles não se davam. A mão dela era pesada em relação a ele e o fofoleto não era nenhum santo, devolvia sempre.
Minha avó era um poço de vaidade.
Mulher extremamente elegante e vaidosa.
Ela era uma Martins Silva.
Eu nunca consegui ser a Martins Silva dela...
Eu não era vaidosa, eu não usava "saltinho" como a Monica, eu não passava "ruge"nas minhas bochechas...eu andava de bamba e tingia cada um de um par....ou seja, um horror!
Adolescente, na minha festa de 15 anos, minha prima estava sem dinheiro e me deu uma caixa de bombons. Minha avó chega e manda:
- Não se dá este tipo de presente em aniversário de 15 anos.
E entregou-me uma jóia.
Eu devolvi e comi, como uma boa adolescente rebelde e altiva , o bombom na cara dela.
Nem preciso dizer que eu era A "Moreira"...
O prato predileto do meu pai era disparar "coisas"contra minha avó do tipo:
- Viu como ela engordou ? E nem é tão bonita assim...se acha.Coitado do seu avô.
E eu prontamente validava tudo.
Mas depois do meu pai, veio a minha vez...
O patinho feio, a que andava de skate, o "menino" entrou no trabalho e começou a ganhar dinheiro e com isso viajar...
Pensei...agora serei aceita no grupo seleto de minha avó...
Longe disso...tudo que era bom vinha do meu tio, o filho dela.
E lá estava eu conhecendo a Tailandia, Vietnam, Australia, Nova Zelandia e minha avó só perguntava:
- E Europa...ahhh mas vc não vai para lá...pois o Vitor ( filho mais velho do meu tio ) ahhh o Vitor saber escolher.
E assim encerrava mais uma visita frustada a minha avó...
Não tinha jeito...não nos bicávamos...eu NAO era a Martins Silva como minha irmã mais velha, nem como meu tio, nem como seus filhos.
Nada do que eu fizesse tinha valor...
Passei a odiar jóias na adolescência e pessoas vaidosas...vaidade era igual a não afeto , a tirania.
Não ouso falar da relação dela e de minha mãe...outro grande abismo e dificuldade para mim.
Minha mãe a venera...mesmo dizendo o contrário...
Para desespero da minha mãe chamo-a de escrava branca...é assim que minha avó trata minha mãe.
Mas um dia, o patinho feio que era para não ter dado certo, se saiu melhor que a Martins Silva, vaidosa Monica.
Ela começa a viajar mais e mais para lugares e frequentar lugares bacanas...
E um dia em mais uma das visitas padrão/obrigátorios de neta/ avó contei:
- Poxa, não sei o que vestir...irei na festa da Philip Morris dos 20 anos de trabalho com Emerson Fittipaldi..divaguei...
Ela prontamente foi ao armário e sacou uma linda estola com uma bolsa estupenda tipo Grace Kelly.
Tenho as aqui.Ganhei dela.
Durante anos e mais anos minhas visitas a minha avó sempre foram para agradar minha mãe do que para mim mesma.
Visitá-la era sempre um transtorno, ela me fazia lembrar aquele filme de Como treinar seu dragão em que apontam para o menino e dizem:
- Vc precisa mudar isso , isso e isso.
E ele diz:
- Mas vc me pede para mudar TODINHO!
Essa é a sensação com minha avó.
Melhora, as vezes.
Mas desta vez a escolha foi minha.
Quando meu pai faleceu, me deu uma raiva enorme.
Porque me tiraram ele e não foi ela ? Porque ela, que é tão ruim, ainda vive ?
Foi o que senti...triste realidade....fiquei com raiva demais...não a visitei mais...
Sei que minha mãe sofre com isso mas eu não conseguia...tive raiva enorme dela...sem razão...apenas não achava justo...
Fiquei sem meu jogador no meu time...o único " Moreira"...estava só...
Então fiz questão de não vê-la...
Hoje, quando estava na Tiffanys com a bolsa dela, pensei...poxa não vale a pena.
Da ultima vez, pela minha mãe, fui vê-la.
Estava um trapo...aquela mulher ,minha avó...antes cheia de vaidade, agora jogada em sua cama...se segura na terra...
Uma vez ela disse ter medo de morrer e eu bem pensei...claro, ruim desse jeito vai pro inferno direto.
Mas não vale a pena...durante anos não suportei a vaidade em mim com medo de não ser afetuosa...
Por anos odiei jóias devido a minha avó...
Por anos a odiei pelo meu pai
Depois por anos a odiei por me menosprezar...
E agora por tratar mal minha mãe...
Vó...é dificil pacas engolir tudo que você fez...
Mas Vó...agora...não vale a pena...
Tudo se foi...inclusive a vaidade...um trapo humano...
Olhei a bolsa e ví...não vale a pena...
Olhei com ternura a bolsa e vi que não vale a pena...
Falta pouco mesmo...não vale a pena...
Ao invés de afeto vs vaidade hoje posso dizer afeto e vaidade...
Este texto faz parte do processo : proibido calar catarses.
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