Ganhei um livro da Ana Beu Manzano sobre a beleza de envelhecer.
Fala muito de vida e morte ...de como conduzimos o tal meio do caminho.
A falta de uma pessoa, no caso o meu pai, faz com que vc se dê conta do papel que cada um ocupa em sua vida mas só percebe, de fato, quando a perde.
Coisas banais do cotidiano que não são importantes mas que recheiam sua vida de VIDA.
No caso do meu pai, que perdi, me dei conta de falta que nem imagina tais como :
- Sua salada de frutas
- Ele ia a quitanda e sabia escolher frutas como ninguém. Nunca quis aprender...ele estava sempre por perto e quando não estava eu ligava e ele dizia...ahhh chacoalhe o maracujá e veja se está solto, o limão tem que estar lisinho a casca senão não tem suco...nunca aprendi direito...era mais fácil ligar...
- Sempre era ele quem cortava as carnes em reunião familiar...fininha...na verdade era quem cortava o queijo, o presunto...dizia que era melhor que qualquer maquina de frios....e de fato, era.
- Era meu GPS. Na estrada, ligava e perguntava : pai, estou na estrada tal km tal , estou correta ? Dessa vez um dizia que eu estava 20 km próximo e outro dizia 200km ...
É...ninguém era como ele,,,acertava na mosca, me dava segurança.
- Sua pérolas de estrada...olha lá...piloto de reta ( cara que freava na curva ), nunca fique a frente de carro velho, em pista molhada cuidado com aquaplanagem, cuidado com caminhão na estrada, ultrapasse rapidamente, quando tiver neblina, chuva forte NAO PARE no acostamento, siga em frente devagar mas nao pare e por favor, pisca alerta é com carro parado nunca em andamento....e assim por diante...
Toda pergunta sempre vinha com um tom eu sei MUITO, mas MUITO mais que vc... que me irritava pacas mas ele no final sabia mesmo...
E dai, decidi fazer o mesmo exercício com minha mãe em vida para ver se estou falhando com algo que me fará falta pacas no futuro...
E vim na estrada pensando:
- Minha mãe é uma excelente ouvinte....ouvinte, não conselheira, o que me irrita pacas pois eu sempre quero debater, questionar, refletir... e ela apenas escuta , não palpita. Pensei...quando se for, só mesmo uma analista me ouvirá dessa forma e olha que analista tem a pergunta final de questionamento...logo o que me irrita hoje tai para eu refletir...
- Fé...minha mãe tem uma fé inabalável. Eu terceirizo minha fé inúmeras vezes a ela : Mãe, fulano está com filho doente, reze para ele. Mãe preciso que vc reze para mim...e assim por diante. O contraponto...como a fofoleta é ariana, ai de vc não dar a devolutiva...pediu, tem que depois contar o resultado. Ela reza, ela pede, com fé e muitas vezes busca ajuda em outros santos, faz pacto com meio céu para ser atendida. Logo quem faria este papel ?
Ninguém...acho que isso seria uma das maiores perdas da minha vida....Talvez lembrasse da sua oração as 18h para Nossa Senhora, afinal a Santa passa lá na casa dela esse horário....e não adianta tripudiar que a santa deve estar ocupada, congestionada em outros lares, que foi clonada que ela nem liga para sua blasfêmia...continua lá, firme e forte!
- Também sentiria falta do bolo de iogurte, torta de morango e sorvete de creme com calda de chocolate que ela faz o três de uma só vez e acredita piamente que vc deve comer TUDO antes de partir de Tupã...e se vc não come , faz cara de rejeitada....e vc fica com uma culpa do cão...um saco...mas ai ai de vc não comer...logo...
- e seu churrasquinho que não sei a receita e nem quero aprender....eu quero apenas comer lá...
Pois é ...me dei conta dessas coisas banais mas que formam um cotidiano tão forte que nem damos conta...
E tem tantas....é isso que deixa meu pai mais vivo que nunca e é isso que não quero perder em minha mãe e que me fará uma falta sem fim...
Huhhh reflexões da maturidade...reflexões da importância desse seres que me deram forma...
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