domingo, 11 de maio de 2014

Contos de fada, a figura masculina e meu pai.

Meu tio Newton hoje contou uma passagem de meu pai.
Era final de ano, fizeram a contagem e ele, por muito pouco, ficou em segundo lugar de vendas. Na hora do resultado ele CHOROU...
Disse que todos ficaram sem saber o que fazer...

Meu pai era competitivo pacas.
Ele sempre dizia que o segundo é o primeiro perdedor.
Nunca esqueci disso.
Competir assim acirradamente é uma postura mais masculina.
Porém ninguém espera um choro da perda.
Essa nudez de sentimento, essa coisa mais feminina, mais sem medo de expor seus sentimentos, de entrega mesmo.
Homens esbravejam, emputecem, fecham a cara.
Meu pai era homem e chorava.
Muito.


Ri ao pensar nisso.
Lembro das primeiras sessões de psicanalise e o final dela : a dificuldade em traçar paralelos e processo de identificação.O que estava no " mercado" não batia, não conferia com o que eu vivia em casa de figura masculina. Um dia até minha analista disse:
Betina, até eu tenho vontade de conhecer seu pai !
:-)

Os príncipes da Disney não choravam, eles salvavam as pobres vitimas mulheres desprotegidas.
Mas meu pai era provedor/macho e protetor/fêmea.
Ele provia e alinhavava emoções.
Homens são provedores, mulheres que lidam com as emoções.
Não com meu pai...
Tinha postura tão feminina... por exemplo essa mania de agradar a todos e saber o desejo de cada um : do sorvete de milha e bombons de cereja da minha mãe, do figo e castanha da minha avó, de cada vontade das filhas.
Isso é tão feminino!
De parar num shopping e ficar horas e horas conosco sem reclamar...

E era aquele macho provedor sem paciencia para nada de não dar satisfação com seu dinheiro, eu mando, eu darei um jeito, não pedia ajuda...macho, tipo Shrek.

Meu pai era único, definitivamente ÚNICO.

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