domingo, 22 de julho de 2012

Homenagem a Alexei Sakarov - Hilda Hilst

"          de cima do palanque
           de cima da alta poltrona estofada
           de cima da rampa
           olhar de cima

LÍDERES, o povo
Não é paisagem
Nem mansa geografia
Para a voragem
Do vosso olho.
POVO.POLVO.
UM DIA.

O povo não é o rio
De mínimas águas
Sempre iguais.
Mais fundo, mais além
E por onde navegais
Uma nova canção
De um novo mundo.

E sem sorrir
Vos digo:

O povo não é
Esse pretenso ovo
Que fingis alisar.
Essa superfície
Que jamais castiga
Vossos dedos furtivos.
POVO. POLVO.
LÚCIDA VIGÍLIA.
UM DIA."

Em época de eleição, vale a reflexão...

Poemas aos Homens de nosso tempo Homenagem a Alexander Solzhenitsyn


Senhoras e senhores, olhai-nos.
Repensemos a tarefa de pensar o mundo.
E quando a noite vem
Vem a contrafacção dos nossos rostos
Rosto perigoso, rosto-pensamento
Sobre os vossos atos.

A muitos os poetas lembrariam
Que o homem não é para ser engolido
Por vossas gargantas mentirosas.
E sempre um ou dois dos vossos engolidos
Deixarão suas heranças, suas memórias

A IDÉIA, meus senhores

E essa é mais brilhosa
Do que o brilho fugaz de vossas botas.

Cantando amor, os poetas na noite
Repensam a tarefa de pensar o mundo.

E podeis crer que há muito mais vigor
No lirismo aparente
No amante Fazedor da palavra

Do que na mão que esmaga.

A IDÉIA é ambiciosa e santa.
E o amor dos poetas pelos homens
É mais vasto
Do que a voracidade que vós move.
E mais forte há de ser
Quanto mais parco

Aos vossos olhos possa parecer.

Hilda Hilst

segunda-feira, 2 de julho de 2012

"Pode com a tristeza é quem não perdeu a alegria "


"Pode com a tristeza é quem não perdeu a alegria "
Adelia Prado


Acredito ser importante olhar, encarar, conviver com a tristeza. Após este olhar, esta convivência, vc pode "segura-la"e dizer :
- Você está comigo , me pertence mas não me engole!
Ser inteiro é saber conviver com nossas sombras sem deixar ser engolido por ela...

domingo, 1 de julho de 2012

sexta-feira, 22 de junho de 2012

Sobre Força Interior

"E no meio do inverno eu descobri que dentro de mim havia um verão invencível ".
Albert Camus

quarta-feira, 13 de junho de 2012

As três palavras mais estranhas

"Quando pronuncio a palavra Futuro, 
a primeira sílaba já pertence ao passado. 

Quando pronuncio a palavra Silêncio, 
suprimo-o. 

Quando pronuncio a palavra Nada, 
crio algo que não cabe em nenhum não ser."

Wislawa Szymborska

domingo, 10 de junho de 2012

Retrato de Mulher - Wislawa Szymborska


" Deve ser para todos os gostos.
Mudar só para que nada mude.
É fácil, impossível, difícil, vale tentar.
Seus olhos são , se preciso, ora azuis, ora cinzentos,
negros, alegres, rasos d'água sem nehuma razão.
Dorme com ele como a primeira que aparece, a única do mundo.


Dá-lhe quatro filhos, nenhum filho, um.
Ingênua, mas a que melhor aconselha.
Fraca, mas aguenta.
Não tem cabeça, pois vai tê-la.
Lê Jasperse revista de mulher.
Não entende de parafusos, mas constrói uma ponte
Jovem, como sempre jovem, ainda jovem.
Corre para onde, não está cansada.
Claro que não, só um pouco, muito, não importa.
Ou ela o ama ou é teimosa.
Para o bem, para o mal e para o que der e vier ".

domingo, 3 de junho de 2012

O despertar da montanha - Paulo Mendes Campos




Assim como há quem sofra de insônia, sofro de despertar. Meu sonho é tão nebuloso, tão viscoso, tão atravessado de assombrações e armadilhas, que me custa o indizível ter de me arrastar desse brejo ancestral para as obrigações do mundo urbano. Existe um poema de Henri Michaux que conta o angustioso renascimento do planeta gasoso em que certas pessoas se transformam depois da viagem noturna; dele e meu.
Enquanto pude, filho ou chefe de família, proíbi que me fosse feito qualquer pergunta durante minha primeira hora de vida cada manha.
Você vai hoje cedo para cidade? Uma questão à toa como essa, em vez de me puxar para frete, me empurra de novo para trás, para o pântano primeiro onde se conhece apenas o desconhecimento.
Quer um ovo quente? E eis-me outra vez cadáver que não morreu de todo, um morto ainda emaranhado no pesadelo de ter vivido.
Quando os pequenos foram crescendo (são dois, como no Plebiscito, um menino e uma menina), minha interdição começou a ser desmoralizada. Abro os olhos omissos e, como um cão que estranha o dono, tenho vontade de latir para o universo.
Venho de charnecas nevoentas, venho de violentos desencontros e nada quero. Sou só um pedaço de homem, sem forças para galgar os degraus do dia que se oferece. Já inclinado a regressar para sempre ao meu povoado de fantasmas, de horrores e êxtases selvagens, ouço uma voz a pronunciar palavras incompreensíveis e, decerto, sinistras. Faço um esforço sem direção. Uma faísca sonora articulou a palavra papai, estilhaçando a treva que vedava a face do abismo. Papai era eu. Abro os olhos idiotas e vejo uma carinha que não me é de todo estranha. Depois de sofrida reflexão, admito que pode ser minha filha. Mais terei uma filha? Desisto de saber. Fujo por um túnel, ando, ando, e reapareço do outro lado, onde a mesma carinha me espera com a sua condenação. Papai!
Papai sou o mesmo, digo para tranquilizar-me. Removo destroços, procuro espantar pelo menos o grosso do nevoeiro, agarro-me ao abajur, ao armário, á persiana, ao homem da caverna consegue afinal emitir uma palavra: Hã!
A menina, esperançada, repete a sentença ininteligível:
- Como é que eu distribuo 2.400 litros d'água por três reservatórios,de modo que o primeiro tenha 54litros mais que o segundo,e este 63 litros mais que o terceiro?
Diante desse enigma repelente é muito melhor voltar á condição de ameba, mas já é tarde: estou grudado a uma zona intermediária, numa desolada terra de ninguém, entre dois mundos absurdos. Abre-se um pouco mais a réstia do entendimento, mas o impasse continua. Com timidez e ressentido orgulho, confesso: Não sei.A carinha não se afasta e compõe outro enigma, como se fosse possível a gente ignorar uma coisa e saber outra, como se os enigmas todos não constituíssem um único e esmagador enigma:
- Uma livraria manda pagar a uma casa editora de Paris uma fatura de 1.500 francos por intermédio de Banco de Londres...
Gemido e desespero. A esfinge continua implacável:
- Eu quero saber qual a quantia necessária, em moeda brasileira, se 30 fracos valem uma libra, e esta, 2 cruzeiros.
Aquela libra a 2 cruzeiros me funde e difunde outra vez :
- Não sei; pergunte á sua mãe que é inglesa.
Fecho os olhos. (Puxa, papai!) Abro os olhos. Reconheço com uma alegria de bicho inferior que a menina impertinente sumiu. Posso regressar aos meus pampas impalpáveis, ás minhas campinas eternas. Mas uma pata de urso me agarra pelos cabelos. Papai. Abra os olhos com relutância e vejo uma cara redonda e resolvida do menino.
- Pai, os músculos formam o que chamamos de carne?
- É claro - respondo sem convicção, só para ficar livre daquela cara de maçã.
- Quais são os símbolos da pátria?
- Que pátria?
- Da nossa pátria, ora bolas.
- Não me lembro de todos.
- Como eram constituídas as bandeiras?
- Mesma coisa de sempre: um pedaço de pano e um pedaço de pau.
- Deixa de ser burro, pai; essa até eu sei: as bandeiras eram constituídas de homens,mulheres,moços,velhos,índios amassados, padres, animais domésticos e bestas de carga.
- Se você sabe, por que está perguntando?
- Queria ver se você é mesmo ignorante.
- Vê se não chateia Daniel.
Recebo uma patada no ombro e reconheço que perdi o combate: vou nascer de novo. A luz me machuca. Usando de todos os meus pseudópodos, rastejo até o chuveiro. A água faz bem aos animais.
Do outro lado da porta as perguntas também chovem: - Qual é o antônimo de fervor?
- O barulho do chuveiro não me deixa ouvir.
- Que consequências trágicas sofreu o Brasil na segunda Guerra Mundial por não possuir estradas?
- Hein?Depois eu conto.
- Movimento de translação é assim ou assim?
- Não posso ver pela porta, não é,Gabriela?
- Como Pedro Alves Cabral podia saber que tinha chegado na baía Cabrália?
- Engraçadinho!...
- Como era mesmo o nome direito do Caramuru?
- João Ramalho, menina.
- Que João Ramalho, pai?
- Uai, não é não?
- João Ramalho é aquele que ajudou Martim Afonso de Sousa na capitania de São Vicente.
- Ah, isso mesmo: o bacharel de Cananéia.
- Mas eu quero saber é o Caramuru.
- O de Caramuru eu não sei não.

A quem tiver carro - Fernando Sabino

E eu continuo sem entender de carro....sem curso, sem lenço e sem documento :-)

A quem tiver carro - Fernando Sabino
O carro começou a ratear. Levei-o ao Pepe, ali na oficina da Rua Francisco Otaviano:
- Pepe, o carro está rateando.
Pepe piscou um olho:
- Entupimento na tubulação. Só pode ser.
Deixei o carro lá. à tarde fui buscar.
- Eu não dizia? Defeito na bomba de gasolina.
- Você dizia entupimento na tubulação.
- Botei um diafragma novo, mudei as válvulas. Estendeu-me a conta: de meter medo. Mas paguei.
- O carro não vai me deixar na mão? Tenho de fazer uma viagem.
- Pode ir sem susto, que agora está o fino.
Fui sem susto, a caminho de Itaquatiara. O fino! Nem bem chegara a Tribobó o carro engasgou, tossiu e morreu. Sorte a minha: mesmo em frente ao letreiro de "Gastão, o Eletricista".
- Que diafragma coisa nenhuma, quem lhe disse isso? - e Gastão, o Eletricista, um mulatão sorridente que consegui retirar das entranhas de um caminhão, ficou olhando o carro, mãos na cintura:
- O senhor mexeu na bomba à toa: é o dínamo que está esquentando.
Molhou uma flanela e envolveu o dínamo carinhosamente, como a uma criança.
- Se tornar a falhar é só molhar o bichinho. Vai por mim, que aqui no Tribobó quem entende disso sou eu.
Nem no Tribobó: o carro não pegava de jeito nenhum.
- Então esse dínamo já deu o prego, tem de trocar por outro. Não pega de jeito nenhum.
Para desmenti-lo, o motor subitamente começou a funcionar.
- Vai morrer de novo - augurou ele, - e voltou a aninhar-se no seu caminhão.
Resolvi regressar a Niterói. à entrada da cidade a profecia do capadócio se realizou: morreu de novo. Um chofer de caminhão me recomendou o mecânico Mundial, especialista em carburadores - ali mesmo, a dois quarteirões. Fui até lá e em pouco voltava seguido do Mundial, um velho compenetrado arrastando a perna e as idéias:
- Pelo jeito, é o carburador.
Olhou o interior do carro, deu uma risadinha irônica:
- é lógico que não pega! O dínamo está molhado!
Enxugou o dínamo com uma estopa: o carro pegou.
- Eu se fosse o senhor mandava fazer uma limpeza nesse carburador - insistiu ainda. - Vamos até lá na oficina...
Preferi ir embora. Perguntei quanto era.
- O senhor paga quanto quiser.
Já que eu insistia, houve por bem cobrar-me quanto ele quis.
Cheguei ao Rio e fui direto ao Haroldo, no Leblon, que me haviam dito ser um monstro no assunto:
- Carburador? - e o Haroldo não quis saber de conversa. - Isso é o platinado, vai por mim.
Cutucou o platinado com um ferrinho. Fui-me embora e o carro continuava se arrastando aos solavancos.
- O platinado está bom - me disse o Lourival, lá da Gávea. - Mas alguém andou mexendo aqui, o condensador não dá mais nada. O senhor tem de mudar o condensador.
Mudou o condensador e disse que não cobrava nada pelo serviço. Só pelo condensador.
No dia seguinte o carro se recusou a sair da garagem.
- Não é o diafragma, não é o carburador, não é o dínamo, não é o platinado, não é o condensador - queixei-me, deitando erudição na roda de amigos. Todos procuravam confortar-me:
- Então só pode ser a distribuição. O meu estava assim...
- Você já examinou a entrada de ar?
- Para mim você está com vela suja.
E recomendavam mecânicos de sua preferência:
- Tem uma oficina ali na rua Bambina, de um velho amigo meu.
- Lá em São Cristóvão, procure o Borracha, diga que fui eu que mandei.
- O Urubu, ali do "Posto 6", dá logo um jeito nisso.
Não procurei o Urubu, nem o Borracha, nem o Zé Pára-Lama, nem o Caolho dos Arcos, nem o Manquitola do Rio Comprido, nem o Manivela de Voluntários, nem o Belzebu dos Infernos, esqueci o automóvel e fui dormir. Pela minha imaginação desfilava um lúgubre cortejo de tipos grotescos, sujos de graxa, caolhos, pernetas, manetas, desdentados, encardidos, toda essa fauna de mecânicos improvisados que já tive de enfrentar, cuja perícia obedece apenas à instigação da curiosidade ou à inspiração do palpite, que é a mais brasileira das instituições.
Mas pela manhã me lembrei de um curso que se anuncia aconselhando: "Aprenda a sujar as mãos para não limpar o bolso". Resolvi candidatar-me - e quem tiver ouvidos para ouvir, ouça, quem tiver carro para guiar, entenda. Fui à garagem, abri o capô, e fiquei a olhar intensamente o motor do carro, fria e silenciosa esfinge que me desafiava com seu mistério: decifra-me, ou devoro-te. Havia um fio solto, coloquei-o no lugar que me pareceu adequado. Mas não podia ser tão simples...
Era. Desde então, o carro passou a funcionar perfeitamente.

A repartição dos pães - Clarice Lispector

Era sábado e estávamos convidados para o almoço de obrigação. Mas cada um de nós gostava demais de sábado para gastá-lo com quem não queríamos. Cada um fora alguma vez feliz e ficara com a marca do desejo. Eu, eu queria tudo. E nós ali presos, como se nosso trem tivesse descarrilado e fôssemos obrigados a pousar entre estranhos. Ninguém ali me queria, eu não queria a ninguém. Quanto a meu sábado – que fora da janela se balançava em acácias e sombras – eu preferia, a gastá-lo mal, fechá-la na mão dura, onde eu o amarfanhava como a um lenço. "

Clarice Lispector
A Reparticaõ dos Pães - do Livro Legião Estrangeira
Retirado do Elenco de Cronistas Modernos - 9a ediçao pagina 35.

Na estrada - Drummond


Nunca será tão domingo como aqui, e domingos e domingas de eternidade se concentram em vigorosa dominicalização. Não acontecer nada, que beatitude! Deixar  mato crescer - mas o próprio mato foge à obrigação, e goza o domingo.




domingo, 27 de maio de 2012

Peixe ou Tubarão

As vezes eu sou só um peixe...
Mas tenho mania de agir como se fosse um tubarão...
Ainda bem que tenho amigos fofos que olham bem fundo e me vêem...
...e riem da minha fantasia de tubarão...
E ainda permitem que eu a use sem rasgar...
E me mostram que isso é apenas uma fantasia...
Delicadamente me mostram que sou apenas um peixe!

sábado, 26 de maio de 2012

Um dia acordaras - Mario Quintana


Um dia acordarás num quarto novo
sem saber como foste para lá
e as vestes que acharás ao pé do leito
de tão estranhas te farão pasmar,


a janela abrirás, devagarinho:
fará nevoeiro e tu nada verás...
Hás de tocar, a medo, a campainha
e, silenciosa, a porta se abrirá.


E um ser, que nunca viste, em um sorriso
triste, te abraçará com seu maior carinho
e há de dizer-te para o teu assombro:


- Não te assustes de mim, que sofro há tanto!
Quero chorar - apenas - no teu ombro
e devorar teus olhos, meu amor...


Para Maria Helena , que me pediu "uma história bem romântica"

quinta-feira, 24 de maio de 2012

Congelar o Passado

Congelar o passado
Trazê-lo ao presente
Um ato sano insano de tentar recuperar algo
Não vê que ficou tudo lá atrás
Congelado
Não volta mais
Mas não vê
E busca, tenta, perde-se
Perde-se

quarta-feira, 23 de maio de 2012

Tão forte, tão frágil

Viaja de um lado para o outro.
Negocia na China.
Sabe o que quer.
Caminha firme.
Mas...
Mas não dorme direito porque acredita que o monstro pode estar embaixo da cama...
Acredita ainda em monstros do armário...
Mas ela vai a China...
Mas ela tem medo do monstro do armário...
Tão forte, tão frágil...
Tão determinada, tão delicada...

domingo, 6 de maio de 2012

Dialogo franco com muito afeto


Eu gosto de diálogos francos , honestos e recheados de afeto.
A verdade pode ser dita , sempre, desde que calcada no cuidado com o outro.
Esse diálogo, retirado de um filme tão bobinho, foi simplesmente d-i-v-i-n-o!

O pai perde o emprego e a menina de uns 5 anos entra em pânico pois ouve na escola de outra amiga que quando isso aconteceu com ela, os pais separaram e eles mudaram de lugar.
Ela passa mal na escola e o pai cancela a entrevista de emprego para ficar com a menina. Eles decidem fazer algo juntos.

- Eu tenho uma idéia. Que tal nós dois fazermos o maior desenho do mundo ?
Começam a desenhar e pintar e dai ela pergunta:
- Pai, eu acho que voce desenha melhor do que qualquer pessoa do mundo.
- Obrigada querida. eu estudei Artes "outrora"como dizem.
- O que aconteceu ? Vc teve um boletim com notas ruins ?
- Não. Sua irmã chegou, eu procurei o melhor emprego e , quando vi, era vice -presidente.
- Ai eu cheguei ?
- Sim, isso mesmo. E depois a Roberta. Mas eu não mudaria nada. Voces deixam minha vida muito colorida.

Capacete para vida

Usar capacete para vida
Isso tem nome
Vale a pergunta
Vale a pena?

Vida


“ Surpreendido de noite com a mão nos ouvidos,
o moço dizia: não durmo, é a música do bar,
este galo seu que canta fora de hora.
Mentira. É por causa da vida que não dorme,
da zoeira sem fim que a vida faz”

Ruminando...excesso de pulsação...

sábado, 5 de maio de 2012

Valor

"Eles sabem o preço de tudo e o valor de nada."
Oscar Wilde

Frase do filme The Rum Diary sobre empresarios gananciosos

Trapos

"Trapos
Fazem 
Papel

Papel
Faz 
Dinheiro

Dinheiro
Faz
Bancos

Bancos 
Fazem 
Empréstimos

Empréstimos
Fazem
os Pobres

Os Pobres
Fazem
Trapos..."

Oficina das artes do livro
Marcador de livro que tenho há muitos anos e está bem amarelo...da minha época de estudante

Luxuria

" Ao ser perguntado sobre as consequencias da bebida, um personagem de Macbeth responde:
- A luxúria, senhor, tanto provoca como a afasta, porque provoca o desejo, mas impede e execução "

Prazer

"O prazer de um sabor centra-se na língua e no céu da boca, embora com frequência não comece ali, mas na lembrança. E a parte essencial desse prazer reside nos outros sentidos, na visão, no olfato, no tato, inclusive na audição. Na cerimônia do chá no Japão, o gosto da bebida é o menos importante – na verdade o chá é amargo – mas a serena intimidade das paredes nuas, as formas depuradas dos utensílios, a elegância do ritual, a concentrada harmonia de quem oferece o chá, o quieto agradecimento de quem o recebe, o tênue odor da madeira e do carvão, o som da concha ao verter a água no silêncio do aposento, tudo constitui uma celebração para a alma e para os sentidos. "

Afrodite - Isabel Allende

quinta-feira, 3 de maio de 2012

quarta-feira, 2 de maio de 2012

Atitude


"Não me diga quão dificil está a tempestade. Apenas traga o navio de volta" K.M.Keith.

Lamuriar na tempestade é fácil...
Tomar atitude é para corajosos...mesmo que a atitude seja de recuar.

terça-feira, 1 de maio de 2012


No Escuro


Tempo tempo tempo tempo...
A idade nos faz sentir o tempo de forma diferente...e afeto na sua essência...
"Nos ultimos tempos gostava de ficar deitado no escuro, quieto, e queria sempre alguém ficasse com ele. Um dia Elena protestou:
- Mas tio, o que que eu vou ficar fazendo aqui, nessa escuridão ?
- Senta aí e simplesmente me adora..."
Mario Quintana para sua sobrinha Elena que ficou muito próxima dele e era além de parente, sua secretária.

Um delicia essa forma de pedir afeto...estava ali..inteirinho!

segunda-feira, 30 de abril de 2012

Visão de Clarice Lispector - Drummond


Clarice,
veio de um mistério, partiu para outro.
Ficamos sem saber a essência do mistério.
Ou o mistério não era essencial,
era Clarice viajando nele.
Era Clarice bulindo no fundo mais fundo,
onde a palavra parece encontrar
sua razão de ser, e retratar o homem.
O que Clarice disse, o que Clarice
viveu por nós em forma de história
em forma de sonho de história
em forma de sonho de sonho de história
(no meio havia uma barata
ou um anjo?)
não sabemos repetir nem inventar.
São coisas, são jóias particulares de Clarice
que usamos de empréstimo, ela dona de tudo.
Clarice não foi um lugar-comum,
carteira de identidade, retrato.
De Chirico a pintou? Pois sim.
O mais puro retrato de Clarice
só se pode encontrá-lo atrás da nuvem
que o avião cortou, não se percebe mais.
De Clarice guardamos gestos. Gestos,
tentativas de Clarice sair de Clarice
para ser igual a nós todos
em cortesia, cuidados, providências.
Clarice não saiu, mesmo sorrindo.
Dentro dela
o que havia de salões, escadarias,
tetos fosforescentes, longas estepes,
zimbórios, pontes do Recife em bruma envoltas,
formava um país, o país onde Clarice
vivia, só e ardente, construindo fábulas.
Não podíamos reter Clarice em nosso chão
salpicado de compromissos. Os papéis,
os cumprimentos falavam em agora,
edições, possíveis coquetéis
à beira do abismo.
Levitando acima do abismo Clarice riscava
um sulco rubro e cinza no ar e fascinava.
Fascinava-nos, apenas.
Deixamos para compreendê-la mais tarde.
Mais tarde, um dia… saberemos amar Clarice.

Aparição Amorosa - Drummond

"Doce fantasma, por que me visitas
como em outros tempos nossos corpos se visitavam?"


Drummond - Aparição Amorosa

Aparição Amorosa - Drummond

"Tua visita ardente me consola.
Tua visita ardente me desola.
Tua visita, apenas uma esmola."

Drummond - Aparição Amorosa
Foto :Patricio Suarez

Alcance

"No manto azul marinho
bordado de estrelas
eu bordo você
ao alcance da minha boca "

Martha Galrão


Memória - Drummond

"Mas as coisas findas
muito mais que lindas,
essas ficarão."
Drummond

O olho do gato me olha ,a chuva me molha e o avião acima não rima.
Gal Oppido

Pulsão de Vida

Sabe aquela máxima do copo meio cheio e meio vazio ?
Pois bem, ouvi este termo "pulsão de vida" ontem e não me esqueci...
Um tailandes que passou pelo tsunami, perdeu mulher e filhos, tentou sua recuperação de vida no Japão.
Eis que novamente, passa por um desastre da natureza : o terremoto.
Ao dar entrevista a jornalista pergunta:
- O Sr não acha que é muito azar ?
- Azar ? Como se Deus me concedeu a vida duas vezes ? Sou um sobrevivente...quer sorte maior que essa ?
É impressionante o olhar que cada um pode dar sobre os acontecimentos da vida...

domingo, 29 de abril de 2012


Eterno ...terno

"O amor dura enquanto é TERNO."
Frei Beto numa celebração de casamento.


Uma inversão bem interessante...

Mortes Sucessivas - Adelia Prado


Pois é....lembrei de vc ao ler este poema da Adelia Prado.
Sem melancolia mas com um certa reflexão...você não tem idéia de como sua perda mexeu comigo, mexeu nas minhas crenças, na minha maneira de viver...
Não de forma ruim, ao contrário, me deu mais sede ainda de vida, aproximei-me mais da mamãe, o meu , seu avesso, e aprendi a olha-la de forma mais terna,menos exigente....e meu olhar para mundo mudou...mudou na direção...a velocidade tem sido lenta mas profunda.

Segue Adelia

"As mortes sucessivas

Quando minha irmã morreu eu chorei muito
e me consolei depressa. Tinha um vestido novo
e moitas no quintal onde eu ia existir.
Quando minha mãe morreu, me consolei mais lento.
Tinha uma perfuração recém-achada:
meus seios conformavam dois montículos
e eu fiquei muito nua,
cruzando os braços sobre eles é que eu chorava.
Quando meu pai morreu, nunca mais me consolei.
Busquei retratos antigos, procurei conhecidos,
parentes, que me lembrassem sua fala,
seu modo de apertar os lábios e ter certeza.
Reproduzi o encolhido do seu corpo
em seu último sono e repeti as palavras
que ele disse quando toquei seus pés:
‘deixa, tá bom assim’.
Quem me consolará desta lembrança?
Meus seios se cumpriram
e as moitas onde existo
são pura sarça ardente de memória."