Fala sobre educação sexual, que nossos jovens e crianças não recebem a mínima orientação sobre igualdade de gênero e/ou preconceito.
Com isso temos uma sociedade em que o homem é o grande garanhão e a mulher uma grande vadia.
Essa cultura cansa-me, demais.
Desde que minha fêmea de labrador saiu do cio em FEVEREIRO, sim fevereiro!, tenho machos descontrolados e seus tutores( nome novo para dono de cachorro ), basicamente mulheres que acham " normal" o comportamento de seus machos.
Justificam que a fêmea ainda tem " cheiro" ( veja bem 4 meses depois ) e uma até alegou que Matilda não tomava banho e eu precisava leva-la ao veterinário.
Uns alegam que " macho é assim mesmo, instinto" e não recuam mesmo quando devolvo que se o animal agora é " domestico" e tem hora para fazer xixi, comer logo instinto também poderia ser controlado e adestrado. Mas não. Fêmeas são castrados , machos não.
Eu confesso ficar uma fera.
O embate , ao menos para mim, não é de cachorros.
É assustador mulher, combater outra mulher, nesse caso personificado pelo cão.
Sequer olhar que tem ai camadas e mais camadas de preconceito que resbala no cão.
Confesso ficar possessa.
Essa cultura do estrupo em que a mulher/femea é sempre culpada me deixa sem ar...
Ouvir hoje que Matilda ainda " tem cheiro" 4 meses depois do cio é de ferrar...
Sequer passou na cabeça da pessoa olhar para baixo e ver que seu rebento, macho , é um chato e inconveniente de galocha.
Nessas camadas e mais camadas de machismo, vindo exatamente das mulheres, fica bem dificil...
Bem dificil...
Texto da Mariliz Pereira Jorge imperdível abaixo :
"Vem circulando na internet listas de estudantes de escolas públicas da periferia de São Paulo chamadas de Top 10. A eleição não se refere ao desempenho escolar. Para figurar na lista, a garota precisa ser eleita uma das mais vadias. Há casos em outros Estados e eu não ficaria surpresa de que aconteçam coisas parecidas em escolas particulares.
O ranking é feito por garotos e, pasmem, por algumas garotas, que encontraram uma forma de se vingar de suas desafetas. Existe também o Top 10 dos meninos, mas a conotação é bem diferente. São sempre os lindos, os pegadores, os que "comem 12 em duas horas". E há também listas de estudantes sendo chamados de gays, bichas e outros termos impublicáveis.
Esses episódios revelam que a educação sexual vinda da escola e de dentro de casa tem falhado muito mais do que em relação à importância de se usar camisinha. Crianças e jovens não devem estar recebendo a mínima orientação sobre igualdade de gênero ou preconceito.
Crescem ainda sob uma nuvem espessa de machismo em que sexo é um direito apenas do homem. A sexualidade da mulher se torna alvo de ataques. O menino é sempre o garanhão. A menina é sempre a vadia.
Infelizmente, independentemente da classe social, muitos pais ainda educam os filhos de forma diferente. O menino pode, a menina não. Ensinar sobre igualdade de gênero é muito mais do que rosa pode ser uma cor para os garotos e que as meninas também podem brincar de super-heróis.
Educação sexual tem que deixar de ser tabu e a igualdade de gêneros dever ser uma das pautas mais importantes. Pais e professores têm que parar de se valer do ditado "segurem suas cabras que meu bode está solto".
Crianças que aprendem que todos têm direitos, deveres e oportunidades iguais serão adultos que irão respeitar o outro e nunca protagonizar episódios lamentáveis como esses que acontecem nas escolas.
Não adianta ensinar sobre a importância de se usar camisinha e não orientar sobre como as pessoas devem se relacionar. Ao fechar os olhos para essas questões, estamos criando adultos mal informados, preconceituosos e machistas. E isso o uso de camisinha não resolve.
Jornalista e roteirista. Apresenta o programa "Sem Mimimi com Mariliz", no YouTube. A colunista escreve na Folha às quintas e sábados.