quinta-feira, 11 de junho de 2015

" Segurem as cabras que meu bode está solto"

O texto de Mariliz Pereira Jorge na Revista da Folha está impecável.

Fala sobre educação sexual, que nossos jovens e crianças não recebem a mínima orientação sobre igualdade de gênero e/ou preconceito.

Com isso temos uma sociedade em que o homem é o grande garanhão e a mulher uma grande vadia.

Essa cultura cansa-me, demais.

Desde que minha fêmea de labrador saiu do cio em FEVEREIRO, sim fevereiro!, tenho machos descontrolados e seus tutores( nome novo para dono de cachorro ), basicamente mulheres que acham " normal" o comportamento de seus machos.
Justificam que a fêmea ainda tem " cheiro" ( veja bem 4 meses depois ) e uma até alegou que Matilda não tomava banho e eu precisava leva-la ao veterinário.
Uns alegam que " macho é assim mesmo, instinto" e não recuam mesmo quando devolvo que se o animal agora é " domestico" e tem hora para fazer xixi, comer logo instinto também poderia ser controlado e adestrado. Mas não. Fêmeas são castrados , machos não.

Eu confesso ficar uma fera.
O embate , ao menos para mim, não é de cachorros.
É assustador mulher, combater outra mulher, nesse caso personificado pelo cão.
Sequer olhar que tem ai camadas e mais camadas de preconceito que resbala no cão.

Confesso ficar possessa.
Essa cultura do estrupo em que a mulher/femea é sempre culpada me deixa sem ar...

Ouvir hoje que Matilda ainda " tem cheiro" 4 meses depois do cio é de ferrar...
Sequer passou na cabeça da pessoa olhar para baixo e ver que seu rebento, macho , é um chato e inconveniente de galocha.

Nessas camadas e mais camadas de machismo, vindo exatamente das mulheres, fica bem dificil...

Bem dificil...

Texto da Mariliz Pereira Jorge imperdível abaixo :

"Vem circulando na internet listas de estudantes de escolas públicas da periferia de São Paulo chamadas de Top 10. A eleição não se refere ao desempenho escolar. Para figurar na lista, a garota precisa ser eleita uma das mais vadias. Há casos em outros Estados e eu não ficaria surpresa de que aconteçam coisas parecidas em escolas particulares.
O ranking é feito por garotos e, pasmem, por algumas garotas, que encontraram uma forma de se vingar de suas desafetas. Existe também o Top 10 dos meninos, mas a conotação é bem diferente. São sempre os lindos, os pegadores, os que "comem 12 em duas horas". E há também listas de estudantes sendo chamados de gays, bichas e outros termos impublicáveis.
Esses episódios revelam que a educação sexual vinda da escola e de dentro de casa tem falhado muito mais do que em relação à importância de se usar camisinha. Crianças e jovens não devem estar recebendo a mínima orientação sobre igualdade de gênero ou preconceito.
Crescem ainda sob uma nuvem espessa de machismo em que sexo é um direito apenas do homem. A sexualidade da mulher se torna alvo de ataques. O menino é sempre o garanhão. A menina é sempre a vadia.
Infelizmente, independentemente da classe social, muitos pais ainda educam os filhos de forma diferente. O menino pode, a menina não. Ensinar sobre igualdade de gênero é muito mais do que rosa pode ser uma cor para os garotos e que as meninas também podem brincar de super-heróis.
Educação sexual tem que deixar de ser tabu e a igualdade de gêneros dever ser uma das pautas mais importantes. Pais e professores têm que parar de se valer do ditado "segurem suas cabras que meu bode está solto".
Crianças que aprendem que todos têm direitos, deveres e oportunidades iguais serão adultos que irão respeitar o outro e nunca protagonizar episódios lamentáveis como esses que acontecem nas escolas.
Não adianta ensinar sobre a importância de se usar camisinha e não orientar sobre como as pessoas devem se relacionar. Ao fechar os olhos para essas questões, estamos criando adultos mal informados, preconceituosos e machistas. E isso o uso de camisinha não resolve.
Jornalista e roteirista. Apresenta o programa "Sem Mimimi com Mariliz", no YouTube. A colunista escreve na Folha às quintas e sábados. 


segunda-feira, 18 de agosto de 2014

Peitos & Picas


Penso muito nas palavras ,seu significado e o que ela carrega.
Numa conversa com uma amiga veio a seguinte frase :
- Sou como um touro. Não fico doente por nada.
Troquei o touro pela vaca.
Se dissesse sou forte como uma vaca, o significa perderia.
Fiquei triste com a constatação.
Ser forte não pode ser vaca.
Em outro contexto, ouvi de outra amiga a frase:
- Brigo como um galo.
Troquei por galinha e dai piorou...
As palavras femininas não ajudam no significado de força e determinação.
Divaguei o porque...

Lembrei de uma passagem.
Estavam todos em mesa de negociação com um grande supermercado.
Vários homens e eu, a única mulher.
Depois de mais de uma hora de conversa, numa dança sem fim, um teatro ensaiado e batido, olhei com cara de tédio. Eis que meu parceiro perguntou o que eu tinha e não dei conta que falei em tons decibéis acima de um diálogo intimo:
- Estamos aqui há mais de uma hora numa negociação teatral. Tanto pau nessa mesa , ninguém para bater e decidir...É... acho que precisa de peito mesmo para resolver.
Um desconforto generalizado a mesa.
Todos decidiram colocar seu pau para fora e bater.
Saímos sem fechar nada.
Foi um caos e uma lição inesquecível:Em terra de pica, quem tem peito deve tomar cuidado.
Ter peito é complicado...
As mulheres são as principais tiranas nisso : quando vêem uma mulher de peito dão um jeito de masculiniza-las. Uma forma de mante-las sem peito e elas sem culpa de ter algo e não usar. 
Os homens não sabem o que fazer afinal pau que bate a mesa faz barulho e peito não bate em nada, não faz barulho mas pode resolver muita coisa.
Penso sempre nas mulheres que colocam silicones...
Se é uma questão de forjar um peito para usa-los em sedução a fim de conseguir o que querem...
Um peito falso, inexistente mas ali presente, forjando...
Penso em mulheres de peito : Condessa de Barral, feminina e decidida, Amelia Earhart...
Mulheres de peito, sim senhor.
Sem pica mas delicadamente e insuportavelmente com e de peito.


A foto de Camile Claudel é uma ironia ao texto acima.
A força do peito em deixar-se levar... 



domingo, 11 de maio de 2014

Contos de fada, a figura masculina e meu pai.

Meu tio Newton hoje contou uma passagem de meu pai.
Era final de ano, fizeram a contagem e ele, por muito pouco, ficou em segundo lugar de vendas. Na hora do resultado ele CHOROU...
Disse que todos ficaram sem saber o que fazer...

Meu pai era competitivo pacas.
Ele sempre dizia que o segundo é o primeiro perdedor.
Nunca esqueci disso.
Competir assim acirradamente é uma postura mais masculina.
Porém ninguém espera um choro da perda.
Essa nudez de sentimento, essa coisa mais feminina, mais sem medo de expor seus sentimentos, de entrega mesmo.
Homens esbravejam, emputecem, fecham a cara.
Meu pai era homem e chorava.
Muito.


Ri ao pensar nisso.
Lembro das primeiras sessões de psicanalise e o final dela : a dificuldade em traçar paralelos e processo de identificação.O que estava no " mercado" não batia, não conferia com o que eu vivia em casa de figura masculina. Um dia até minha analista disse:
Betina, até eu tenho vontade de conhecer seu pai !
:-)

Os príncipes da Disney não choravam, eles salvavam as pobres vitimas mulheres desprotegidas.
Mas meu pai era provedor/macho e protetor/fêmea.
Ele provia e alinhavava emoções.
Homens são provedores, mulheres que lidam com as emoções.
Não com meu pai...
Tinha postura tão feminina... por exemplo essa mania de agradar a todos e saber o desejo de cada um : do sorvete de milha e bombons de cereja da minha mãe, do figo e castanha da minha avó, de cada vontade das filhas.
Isso é tão feminino!
De parar num shopping e ficar horas e horas conosco sem reclamar...

E era aquele macho provedor sem paciencia para nada de não dar satisfação com seu dinheiro, eu mando, eu darei um jeito, não pedia ajuda...macho, tipo Shrek.

Meu pai era único, definitivamente ÚNICO.

quinta-feira, 17 de abril de 2014

Saudade


Eu não olho mais para trás quando estou dirigindo.
Meu pescoço ficou duro.
Ele segue apenas na direção lateral e a frente.
Eu não olho para o lado quando estou na banheira a sua procura.
Meus pés ficaram imóveis quando estou a mesa teclando.
Passo rápido para sala e não páro mais no meio do caminho quando vc estava de barriga para cima.
Estou dura.
Estou imóvel.
Estou com saudades...

terça-feira, 1 de abril de 2014

Amar o longe

Ama longe
Sonha
Deseja
Quer
Chega perto
Desdenha
Não cuida
Perde
Diz que ama
Ama longe
Sonha
Deseja
Quer
Chega perto
Desdenha
Não cuida
Perde...
Ama o que sonha não o que vê.

sábado, 1 de fevereiro de 2014

Saudade é o amor que fica


" Saudade é o amor que fica "

Brinquedo


Não me serve,
Não faz mais sentido,
Já não gosto mais.
Porém, 
Quando vejo em outras mãos,
Feliz,
Corro para pegar o que acredito ser meu.
Depois de uns dias,
De brincadeira,
Novamente descubro,
Que não queria o brinquedo.
E jogo novamente as traças,
Até aparecer alguém que queria meu brinquedo.
Dai,
Novamente,
Vou lá pegar,
Acreditando,
Que esse brinquedo,
É meu...