sexta-feira, 25 de outubro de 2013

A flor da pele

" Sua desgraçada, eu te odeio"

Foi isso que me deixou em choque, petrificada.
Um menino, de aproximadamente 8 anos máximo 10, aproximou do meu carro com várias bolinhas. 
Começou o malabarismo.
Estava com a cabeça cheia, tentando, sem sucesso, conversar com o gerente do banco para saber da palhaçada que foi o erro do cartão, pela 4a vez.
Fiz sinal que não tinha dinheiro e virei-me para os meus problemas.
O sinal abriu. 
Andei.
Eis que escuto um arremesso de bolinha violentamente no meu carro e de longe o moleque chorando , gritava :
"Sua desgraçada, eu te odeio".
Misto de sentimentos : 
Raiva, o que tenho eu a ver com isso ? 
Pena imensa, quantas vezes hoje foi negada atenção a esse menino ? 
E um cansaço imenso, porque eu ? Porque hoje ? Justo hoje ?
O grito dele ecoou por um bom tempo.
Pé no acelerador e uma vontade de parar, pega-lo no colo e dizer porque ? para que ? onde dói ? posso ajudar ?
Mas não consegui.
Eu não estou dando conta de mim, quem dirá dele.
A dor dele , era um espelho da minha dor.
Da dor de sentir-me pequena e ser feita de idiota pelo banco em voltar várias vezes a agencia por brigas internas entre gerente de pessoa juridica e fisica, da papelada para ter o cartão do BNDES como recibo do imposto pessoa fisica de 2 anos atras , alegar que não faço trabalho escravo, oi ???, onde pego isso ? 
Senti-me igual ao menino : pequena e impotente.
Sem importância.
Ambos gritávamos hoje por atenção.
Ambos não fomos bem sucedidos.
E ao descer do carro, pensei que a lataria tivesse estragado.
Nada aconteceu.
Nem um arranhão.
E nessa hora pensei no banco.
Eu me esguelando e nenhum arranhão naquele cofre imenso de executivos prepotentes.
O que o menino não sabia era que estávamos do mesmo lado : menino e eu, a flor da pele.